Tudo o que de mim se perde acrescenta-se ao que sou.”*


Fazia um pouco de calor, e resolvi andar sem roupa pela sala, brincar na piscina imaginária que eu teimava em trazer! Eu tinha quatro anos; portanto, não há certeza de que os fatos a seguir sejam completamente verdadeiros, ou se terão um pouco de minha imaginação "aquática-pluvial-semântica de Março".
Pois bem, naquele calor infernal eu procurava por uma piscina que sempre levava em meus momentos de deserto; era uma piscina incrível: geladinha, limpinha.... minha! E entrava quem eu quisesse! Eu detinha a chave do portão! Todo mundo entrava!
Na bagunça da festa, a água gelada correndo pelos nossos corpos, eu resolvi crescer! Uma parte da piscina já não era mais a minha; fui despejada; ou lesada? A outra parte que ainda me pertencia, permanecia cheia, e olhando do alto, nada me dava mais alegria! Ainda aquilo que era meu, não precisava ser desde que o que fosse meu por herança estivesse comigo!
Penso no que seria de mim se tivesse corrido atrás da piscina-metade-vazia... somente a teria comigo, e nada mais! Talvez precisasse de mais um pouco de cloro. É. Porque quanto mais sua é a água em que se banha, maior é a necessidade de limpeza que ela carrega. Ser sozinho é cinza demais! Na piscina, Oz ajuda a enxergar, e Totó aqui é mais uma das cores do pote que espera por mim.
Uma piscina assim valeu aos quatro; vale aos trinta! Minha!
O calor daquele dia passou, e a piscina por vezes ficara vazia; fora limpa com sangue verde e preenchida com pessoas de terra. Está pronta para usar! Estávamos nela, hoje. O Sol de hoje difere daquele sobre o qual já contei: é mais intenso, menos forjado; mais ameno mesmo mais temperado; temperado com sabor neutro e coloração lilás. O Sol de hoje fala com sotaques, e me prende mais que o de ontem. O Sol de hoje ignora minha piscina. Quer ser meu mais do que ela; e então vou ter de mudar meu pronome, e essa mudança ataca minha semântica, ferindo o que sei!
Minha piscina está um pouco preocupada com o Sol de hoje. Ele é gentil e sutil e a despreza! A minha piscina evoca meus quatro anos, mas estou sem terra, o sangue verde me deixou um pouco tonta, e agora preciso encontrar mais areia! Minha piscina se rende, e deixa a água entregue à transformação: ferveu! O Sol de hoje fez casinha na piscininha dos meus quatro anos, porque é dono incondicional da Piscina dos Trinta sem ao menos ter entregue dote algum!
E o que era para ser protesto virou carta de entrega sem necessidade de pagamento!



"Os versos meus.... tão seus"



Saudades de escrever assim! rsr

Doidinha, doidinha!

Para mim faz sentidooooo!!!!


Com minhas orações,


Déia Medrado


* O Título da Postagem são dois versos de Thiago de Mello: Vento Geral, O Narciso Cego.